A fábula da cigarra e da formiga é bem conhecida entre nós adultos, aja
vista que cansamos de ouvi-la quando criança. Mas talvez não seja assim tão
popular entre nossos jovens, já que entre a infância em que nós vivemos e a
infância dos novos tempos, existe uma grande distância, não só em razão do
período cronológico, mas de forma significativa no tempo histórico, o que é
notório.
Então convido a todos, mesmo aqueles que já conhecem a história contada
em suas puerícias, a realizar uma breve viagem no texto, para relembrar a
fábula e abarcar a missiva a qual me propus repassar.
- Era uma bela manhã de primavera. O frio do
inverno já havia passado e os primeiros dias de sol deixavam o ar aprazível e
muito adequado à labuta junto à natureza.
E, como de praxe todos os anos,
foi exatamente isso que a formiga começou a fazer. Acordou cedo e caminhou em
busca de alimentos para armazenar para o inverno seguinte. Afinal, foi isso que
seus pais lhe ensinaram e lhe asseguraram que somente assim teria como superar
o inverno seguinte.
Ela caminhava concentrada em sua
busca, quando ouviu uma bela música. Mesmo sabendo que tinha que encontrar algum
alimento até o final do dia, decidiu descobrir a origem daquele som. E foi
assim que encontrou uma cigarra a cantarolar alegremente.
Já a cigarra, quando viu a
formiga caminhando em sua direção, pensou com seus botões:
- Lá vem mais uma formiga metida
a besta pronta para me dar moral e dizer o que devo e o que não devo fazer.
Porém, quando ela se aproximou a
primeira coisa que fez foi elogiar a cantoria da cigarra e ao fazer isso,
conquistou prontamente sua amizade. E assim, aqueles encontros se sucederam, e
com o passar das estações, as duas foram estreitando os laços de amizade.
Como era da natureza da formiga,
passado algum tempo pensou consigo mesma:
- Será que minha amiga não pensa
no inverno? Vive cantando e se alimentando de migalhas que encontra ao seu
redor, sem nunca nada guardar para os dias frios que virão.
Um belo dia, ainda no início do
outono a formiga não se conteve e foi falar com a cigarra. Depois de várias
horas, chegou à conclusão de que de fato não convenceria sua amiga e desistiu.
Já a cigarra por sua vez, não só rejeitou os conselhos da formiga, mas ainda
esbravejou dizendo que ela perdia seu tempo e os melhores dias de sua vida
trabalhando, sem que parasse um dia sequer para aproveitar o que a vida tinha
de melhor para lhe oferecer.
- Que pena, disse lhe então a
formiga, quis ajudá-la, mas você não entende que não se vive só de cantorias e
que é preciso pensar no futuro e nos dias difíceis que por certo virão.
E assim, o outono passou
rapidamente e o inverno chegou com força total. O frio foi intenso e já na
primeira semana de inverno, com aquela friagem toda e sem ter o que comer a
amiga cigarra não resistiu e morreu. Mas sua voz só se calou e parou
definitivamente de cantar, quando ela moribunda caiu ao chão. Quando soube da notícia, a formiga ficou
muito triste e culpou-se por não ter conseguido persuadi-la com suas
ponderações.
Já a segunda semana de inverno o
frio foi ainda mais intenso e até os formigueiros começaram a congelar e as
formigas, que tanto trabalharam, estavam morrendo. Então, a formiga sentindo
que sua vida estava igualmente chegando ao fim, lembrou-se das palavras da
cigarra e finalmente convenceu-se que por sua natureza, tinha o dever de
trabalhar como o fizera, mas que jamais deveria ter se esquecido de reservar
alguns dias ou pelo menos, algumas horas para curtir a vida e se divertir, como
sua amiga fazia...
Portanto a fábula traz a baila como
ensinamento, que não podemos viver só de festas e folias, tão pouco só de trabalho.
Eu diria então que o ideal é temperar a vida com uma boa dose de cigarra e
outra de formiga e ser feliz...
Walter Luiz Ferreira – Escritor e Técnico em Segurança Pública
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