“O Senhor Presidente é um leviano que nunca estudou – e não estudou porque não quis, não é porque não pôde. E agora, no governo do País, queria levar-nos ao comunismo.”
Explicando que discordara da investidura dele ao cargo da Presidência da República, mas terminara aceitando-a, disse o governador. “Eu o conhecia bem”. “De herdeiro de alguns hectares de terra, transformou-se, em poucos anos, em proprietário de mais de 550 mil hectares – uma área igual a quatro vezes e meia o território da Guanabara” e transformou-se num dos homens mais ricos deste País, com três bois por hectare em suas fazendas.
Mas, como bom democrata, submeti-me à vontade da maioria, quando entrou em vigor a fórmula do Parlamentarismo. Mas o Senhor Presidente não queria governar. Adulava, de dia, os trabalhadores que condenava ao desemprego, de noite. O Senhor Presidente jurou fidelidade ao Parlamentarismo, para logo em seguida impor o plebiscito, e todo o povo votou.
“Eu não votei porque achava que o plebiscito era uma palhaçada, e repito que era”.
“Quem quiser fazer reformas deve ter a honestidade de dizer que as fará sem reformar a Constituição. Há necessidades de se fazer reformas, e eu acho que se pode fazer isso sem se mexer na Constituição. Mas o Senhor Presidente não queria isso. Montou um dispositivo sindical nos moldes fascistas, com dinheiro do Ministério do Trabalho, dinheiro roubado do imposto sindical, roubado do salário dos trabalhadores, para pagar as manifestações de bandeirinhas e as farras dos homens do Ministério do Trabalho.”
“Ao mesmo tempo, começou a criar dificuldades para a Imprensa, para os jornais, para o rádio e a televisão, iniciando um processo de escravização dos homens livres que fazem a imprensa do nosso País. Depois de criar as dificuldades, o Senhor Presidente oferecia-se para resolvê-las, enquanto dava curso ao processo de entreguismo do Brasil à Rússia. O Senhor Presidente foi o maior entreguista que já teve este país.”
Continuando seu discurso, acusou o Presidente de iniciar o solapamento da autoridade militar, entregando os comandos militares a gente sem prestígio nas Forças Armadas. “O desprestígio” – disse o governador – “atingiu a todos os setores do Governo, os Ministérios Civis e a própria Casa Civil da Presidência”.
Dizendo que os brasileiros honrados que votaram no Presidente não tinham dado seu voto ao comunismo (“portanto o Presidente enganou o povo”), O governador fez referências elogiosas aos Generais Castelo Branco e Mourão Filho, atacando em seguida o Almirante Aragão (“sem condições para ser almirante”), e aludindo ao Cabo José Anselmo: “A Marinha é tão ruim que um cabo pode ser estudante de Direito. Em nenhuma Marinha do Mundo, nem nos Estados Unidos, nem na Rússia – um cabo tem tempo para estudar Direito. E o Senhor Presidente acobertou, patrocinou, estimulou toda essa gente, jogando marinheiro contra soldado, farda contra farda, classe contra classe, brasileiro contra brasileiro. “Assim, não era possível que a Marinha, a Aeronáutica e o Exército suportassem mais tamanha impostura e tamanha carga de traição.” E concluiu: “Deus é bom”. “Deus teve pena do povo”.
Para quem não sabe, este texto reproduzido nada mais é do que o depoimento de “Carlos Lacerda, governador do Estado da Guanabara”, sobre o Presidente João Goulart e a vitória da Revolução que o destituiu do cargo de Presidente da República e que foi publicado na revista “O Cruzeiro” em edição extra do dia 10 de abril de 1964.
Os tempos são outros, mas os acontecimentos e os problemas do País parecem os mesmos daqueles tempos. E mais uma vez a história política se repete e continua sendo sempre muito atual, não é mesmo?
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